Não
me sentava ao piano faziam muitos anos, pensei até que não
lembrava mais como tocar algo, mas para minha surpresa comecei a
tocar uma música que saiu dos meus dedos sem fazer força
e era uma música que eu nunca havia tocado antes e nem sei
se ela tinha sido tocada por alguém algum dia, era uma canção
que vinha de algum lugar de mim quem sabe da minha alma.
Essas coisas sem explicação que de vez em quando acontecem
é o que nos fazem ter esperança e achar graça
na vida, ao mesmo tempo que eu tocava aquela canção
vi minha vida passar como um filme pelo meu pensamento.
Aprendi a falar com um ano e meio de idade e foi mais ou menos nessa
mesma época que nasceu meu primeiro dente, só fui
aprender a andar de verdade aos 2 anos e meio(usava bota ortopédica),
aprendi a escrever meu nome aos 5 e a ler aos 6 e aos 7 aprendi
a tocar piano na casa de uma tia rica, irmã da minha mãe,
mamãe adorava tocar piano, fui a segunda filha de uma família
de três meninas.
Foi assim que a minha vida começou, nasci num mês de
junho muito frio naquele ano, minha mãe dizia que nunca viu
chover e ventar tanto naquela época, fiquei mais tempo do
que os esperado na barriga dela estava quase completando 10 meses!
Quando eu tinha 8 anos acordei bem cedo na manhã de um domingo,
chamei pela minha mãe mas ela não respondeu, ela tinha
ido embora para sempre, estava cansada de meu pai e dos seus maltratos,
naquela época éramos pobres e meu pai bebia muito
e batia nela, pensei que ela também tinha cansado da gente,
crescemos criados por uma madrasta má e beberrona igual ao
meu pai, ela batia muito na gente, mas eu e minhas irmãs
sempre tivemos uma amizade muito grande, nos apoiamos muito e isso
foi o que nos manteve vivas.
Quando eu tinha 13 anos meu pai parou de beber e conseguiu um bom
emprego, reergueu-se financeiramente, mudamos de casa e melhoramos
um pouco de vida, a madrasta também parou de beber e abriu
uma loja na esquina de nossa casa, graças a nossa tia rica
podemos estudar e aprender piano, trabalhávamos na loja da
madrasta até o anoitecer e jantávamos todos juntos
pela noite.
Minha irmã mais velha acabou engravidando aos 16 anos e foi
mandada para um reformatório e nunca mais a vi, minha irmã
mais nova foi morar com a nossa tia rica e eu ganhei o um piano
dela quando tinha 15 anos(essa tia rica morreu pouco tempo depois).
Meu pai enriqueceu e mudou de casa mais uma vez, dessa vez para
uma grande mansão, mas eu não quis mais morar com
ele e com a madrasta, tinha 18 anos e resolvi ir morar sozinha,
larguei tudo para trás, menos as minhas bonecas e meu piano,
aluguei um apartamento numa cidade vizinha e um consegui um emprego
de vendedora na cidade onde eu morava antes.
Naquela noite voltava para casa cansada, tinha sido um dia muito
cheio, estava no banco do carona da dona da loja em que eu trabalhava,
tudo aconteceu muito rápido, estava chovendo muito e o carro
dela derrapou e bateu numa árvore, em devo ter batido a cabeça
muito forte porque não me lembro de mais nada, fui para o
hospital em estado grave e entrei em coma durante 2 meses.
Quase morri, mas me recuperei lentamente, meu coma não foi
como o de outras pessoas com aquelas histórias de túneis
e luzes, só lembro que fiquei sonhando durante o tempo todo,
foi como se tivesse dormido por uma longa noite durante 2 meses.
E quando acordei e abri meus olhos, eu não podia ver ainda
direito a luz incomodava meus olhos, só podia sentir o calor
da mãos de alguém e esse calor era o calor das mãos
da minha mãe! Ela tinha voltado e esteve ali do meu lado
quase o tempo todo, eram dois milagres ao mesmo tempo, eu estar
viva e a minha mãe estar de volta.
E as noticias era tão boas, pude ver novamente minha irmã
mais velha e ela tinha ganhado uma filha, éramos como sempre
uma família de mulheres fortes.
Mamãe tentou pedir desculpas por ter nos abandonado, mas
não já era preciso, queria que ela ficasse pra sempre
conosco e não importava o passado, o que importava era que
estávamos todas juntas mais uma vez e dessa vez nada nunca
mais iria nos separar.
Agora estou eu tocando meu velho piano e elas foram surgindo de
todos lados da casa(todas nós conhecemos o amor, mas acabamos
sem ele), primeiro foi mamãe que sentou a meu lado e começou
a me ajudar a tocar essa mesma canção que eu nunca
tinha tocado, ela também não conhecia mas era como
se essa música sempre estivesse existido dentro de nós,
depois foram as minhas irmãs que se sentaram a nossa volta
e as filhas delas( e a minha filha claro), agora éramos oito
mulheres e um destino, tocar a vida e tocar a mesma canção
que tocava em nossos corações.
André Luis Aquino
São Paulo, Brasil
28 anos
amante da literatura e da arte de escrever.
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